Carlinhos da Saúde cortou 30% dos cargos comissionados
Com menos repasses federais, os municípios do interior do Acre estão em situação crítica. Cada um busca a forma mais viável de enxugar despesas, sujeitos a pagar um preço caro por isso.
“Ameaça de morte, de apedrejamento do veículo onde ando. Ameaças que vem através das redes sociais, mas estou firme e não volto atrás”. Os relatos do prefeito de Porto Acre assustam. Carlos Portela pediu à Secretaria de segurança pública, proteção pessoal.
Sem condições de gerenciar um dos municípios mais pobres do estado, ‘Carlinhos da saúde’ como é conhecido, decidiu cortar 30% dos cargos comissionados e por último, extinguir gratificações.
Segundo ele, servidores recebiam valores a mais no contra cheque por atender casos de urgência e emergência, sendo que o município não dispõe desse serviço. “As ameaças estão partindo de servidores municipais descontentes pela medida que tomamos. A gestão retirou gratificações ilegais e que estavam retirando da gestão a condição de a gente executar serviços básicos”, explica.
Em dezembro, a medida de cortar gratificações vai atingir outras pastas, a próxima será a educação, adiantou o prefeito.
Crise nas prefeituras
O conflito gerado em Porto Acre, é reflexo da crise que se instalou com mais intensidade este ano, nas prefeituras do país. No Acre, a recessão é mais agudo ainda. Sem industrialização, ou outra fonte econômica resistente, os municípios subsistem do funcionalismo público.
Na última sexta-feira (4), os prefeitos participaram de mais uma reunião da Associação dos municípios do Acre (Amac). Lá não se falava em outra coisa: a falta de recursos. Com repasses cada vez menores do governo federal, maior preocupação é como pagar o 13º salário dos servidores.
“Desde 2013 quando tomamos posse da prefeitura, mesmo dentro das dificuldades que o Brasil atravessa, priorizamos nossos funcionários. Queremos até 20 de dezembro quitar o 13º e também o salário de dezembro”, disse confiante o prefeito de Feijó, Mêrla Albuquerque
Em Cruzeiro do Sul, a queda na arrecadação ultrapassa 80%, segundo o prefeito Wagner Sales. De acordo com ele, o município arrecadava diariamente R$ 30 mil, hoje, o recurso que entra é de no máximo R$ 2 mil. Investimentos com recursos próprios foram paralisados e o serviço público encurtou o cobertor. Houve corte de diárias, horas extras e gratificações.
Depois dessas medidas, o prefeito decidiu cortar na própria carne. Vagner Sales disse que já enviou à Câmara municipal projeto de lei que reduz em 30% os salários dele, dos secretários e dos cargos comissionados. “Com isso, vamos ter se Deus quiser uma redução bastante grande com pessoal para assegurar esse mês o pagamento do 13º e o pagamento de dezembro dos funcionários”, afirmou.
O prefeito de Assis Brasil, Humberto Filho afirma que a crise também afetou a cidade de 8 mil habitantes. Mas de acordo com ele, desde 2013, ações preventivas foram adotadas, calculando tempos difíceis. De 100 cargos comissionados, a prefeitura agora tem apenas 30. Outros gastos foram enxugados e estão ajudando o município a atravessar o deserto. “A crise não é institucional, é moral, de corrupção, então o Brasil todo passa por isso”, disse.

