Uma pesquisa realizada pela ONG SaferNet revelou um aumento de 114% nas denúncias de abuso e material explícito envolvendo crianças e adolescentes na internet desde a repercussão do vídeo publicado pelo influenciador Felca, que abordou o tema da adultização. O estudo mostra que, em 2025, já foram registradas 1.651 denúncias, contra 770 casos em 2024.
A repercussão do conteúdo abriu espaço para que muitas vítimas se sentissem encorajadas a relatar experiências de abuso. Especialistas apontam que a exposição do tema, apesar de delicada, pode servir como gatilho para que pessoas identifiquem situações de violência e busquem ajuda.
A psicóloga Gabriely Freitas explica que vídeos e discussões públicas sobre assuntos tão sensíveis podem mexer com memórias e emoções.
“A importância é começar a conscientizar que os vídeos sobre esses temas vão abrir gatilhos emocionais. A pessoa vai começar a se identificar, surgem pontos de interrogação e até no próprio consultório percebemos um aumento na procura por terapia, porque as pessoas não entendem o que está acontecendo emocionalmente”, destacou.
Já a psicóloga Lara de França reforça que a repercussão do tema cria um ambiente mais favorável para o enfrentamento do abuso:
“Existe uma liberdade muito maior para falar, para fazer a denúncia, para me sentir mais segura e tranquila em expor. Talvez assim seja muito mais fácil denunciar.”
Aumento também no Acre
No Acre, a Delegacia de Atendimento à Criança e ao Adolescente Vítima (Decav) confirma o crescimento no número de ocorrências e também de ligações para o Disque 100 em comparação a 2024. Para a delegada especializada Carla Fabíola, o aumento das denúncias está relacionado à divulgação de casos e às prisões realizadas.
“Isso encoraja vítimas, parentes, vizinhos e pessoas próximas a denunciarem”, disse.
Ela ressalta que todos os crimes contra crianças e adolescentes são de ação penal pública incondicionada:
“Se a Polícia Civil ficar sabendo sobre a denúncia, vai ser investigado normalmente, independente de a vítima querer ou não representar. O atendimento é diferenciado, com acompanhamento psicológico. Mesmo que a vítima não se reconheça como tal, havendo denúncia, a polícia vai investigar.”
A exposição precoce de crianças e adolescentes a conteúdos de violência e abuso pode deixar marcas duradouras. A psicóloga Gabriely Freitas alerta para os impactos na saúde mental:
“Os efeitos podem ser transtorno de ansiedade generalizada, pânico, fobias sociais, depressão, dificuldades em relacionamentos e até automutilação em adolescentes. É essencial que os responsáveis fiquem atentos aos sinais e busquem acompanhamento especializado.”
Canais de denúncia
A Decav, em Rio Branco, funciona 24 horas por dia, sete dias por semana. Além disso, denúncias podem ser feitas de forma anônima pelo Disque 100.
“Se a pessoa não se sentir encorajada a vir até a delegacia, pode ligar para o Disque 100. A denúncia é anônima, mas é importante fornecer o máximo de detalhes possível”, reforçou a delegada Carla Fabíola.
Com informações da repórter Natália Lindoso para TV Gazeta e matéria editada pelo site Agazeta.net
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