A morte de Jonnavila Ruanna, de 32 anos, na noite do último domingo (29), após dar entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do 2º Distrito, em Rio Branco, desencadeou uma série de investigações que apontam para um possível histórico de violência doméstica. Enfermeira conhecida na área da saúde, Jonnavila foi levada ao local por seu companheiro, Antônio Pablo da Silva Lopes, que, posteriormente, foi preso em flagrante por ameaçar familiares da vítima.
O caso chamou atenção da equipe médica da UPA, que percebeu hematomas pelo corpo da jovem. A Polícia Civil foi imediatamente acionada e, desde então, conduz diligências para esclarecer as circunstâncias da morte.
Segundo a Juliana De Angelis, responsável pelas investigações iniciais, Antônio Pablo foi preso em flagrante, não pela suspeita de envolvimento direto na morte da companheira, mas por ameaças dirigidas a familiares dela, que não queriam sua presença no velório. A prisão foi enquadrada como um caso de violência doméstica, conforme entendimento do delegado plantonista. O acusado passou por audiência de custódia nesta terça-feira (1º).
“A ameaça foi feita a familiares da vítima, que não desejavam sua presença no velório. Em razão disso, ele proferiu ameaças e foi autuado em flagrante”, esclarece a delegada. Ela também informou que o inquérito sobre a causa da morte segue em andamento, com a realização de oitivas e requisições de exames periciais, incluindo o laudo necroscópico, que deve esclarecer se os hematomas têm relação com a causa do óbito.
Histórico de agressões e controle
A morte de Jonnavila revelou, segundo familiares e amigos, um histórico de violência emocional e física. De acordo com relatos, a jovem já havia sofrido agressões anteriores, mas, por medo, negava as situações quando questionada oficialmente. Em uma ocasião anterior, uma denúncia anônima foi registrada, mas a vítima não confirmou os fatos à Delegacia da Mulher.
Ainda segundo a família, o companheiro era descrito como ciumento, agressivo e controlador. Jonnavila teria abandonado um dos empregos devido à pressão do parceiro. Além disso, há informações de que ele mantinha controle sobre os dispositivos digitais da jovem. Após sua morte, familiares descobriram que conversas e registros no celular da vítima haviam sido apagados. O aparelho foi localizado já na manhã do dia seguinte, com histórico de uso posterior ao falecimento.
“Ela morreu às 22h e a última visualização no celular foi por volta da meia-noite”, relata um dos familiares.
Além disso, ele estaria em posse dos pertences da vítima e teria sido responsável por derrubar suas redes sociais, como Facebook e Instagram, impossibilitando o contato com amigos e parentes.
Família teme represálias
A prisão de Antônio Pablo ocorreu em meio ao clima de medo e tensão entre os familiares da vítima. Segundo relatos, a família afirma ter sido ameaçada não apenas por ele, mas também por outros parentes do suspeito, supostamente ligados a organizações criminosas. O temor é de que, após a audiência de custódia, o acusado seja liberado e retorne a ameaçar os familiares.
Mesmo sem confirmação oficial de feminicídio, os elementos levantados pela investigação reforçam a hipótese de um relacionamento abusivo marcado por violência psicológica, ameaças e possíveis agressões físicas. A Polícia Civil aguarda os resultados periciais para avançar nas apurações sobre a causa da morte de Jonnavila Ruanna.
“Estamos trabalhando com todas as possibilidades, inclusive se essas lesões podem ter contribuído para o óbito. A investigação vai revelar a verdade”, conclui a delegada De Angelis.
Canais de Ajuda
A denúncia e o rompimento do ciclo de violência são passos desafiadores, mas necessários, que demandam suporte de familiares, amigos e instituições especializadas. O acolhimento da vítima é essencial para romper o ciclo de violência e desvincular-se do agressor.
As vítimas podem procurar a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) pelo telefone (68) 3221-4799 ou a delegacia mais próxima.
Também podem entrar em contato com a Central de Atendimento à Mulher, pelo Disque 180, ou com a Polícia Militar do Acre (PM-AC), pelo 190.
Outras opções incluem o Centro de Atendimento à Vítima (CAV), no telefone (68) 99993-4701, a Secretaria de Estado da Mulher (Semulher), pelo número (68) 99605-0657, e a Casa Rosa Mulher, no (68) 3221-0826.
