O cemitério São João Batista, o mais antigo de Rio Branco, tornou-se sinônimo de abandono e insegurança. Quase todos os túmulos sofreram algum tipo de violação, principalmente o furto das placas de bronze — utilizadas pelas famílias para identificar seus entes queridos e deixar mensagens de despedida. Em muitos casos, as placas duram poucas horas antes de serem arrancadas e revendidas ilegalmente.
Entre os casos mais recentes está o da família Samarões, que se revoltou ao encontrar o túmulo da avó quebrado e a ossada exposta. Uma planta cresceu sobre o jazigo, o cimento e a lajota cederam e, segundo os familiares, a administração do cemitério não fez nenhum alerta prévio.
“No dia que fomos ver, já tinha até sandália dentro do túmulo. Provavelmente alguém entrou, veio da rua e guardava as coisas lá dentro. A família foi obrigada a arcar com os custos da reconstrução”, relatou um dos netos da idosa.
Para tentar proteger a memória da avó, os Samarões gastaram cerca de R$ 4 mil na reconstrução do jazigo e tomaram uma decisão: não colocar mais nada de valor no local, com medo de novos furtos.
“Aqui dentro, principalmente nos finais de semana e à noite, o pessoal de rua é muito frequente. Eles vêm dar aquelas voltinhas aqui dentro”, desabafou outro familiar.
O problema não atinge apenas famílias anônimas. Túmulos de figuras históricas do estado também estão sendo danificados. No jazigo do ex-governador Flaviano Melo, por exemplo, o mármore de uma das laterais está quebrado. Segundo funcionários, o dano pode ter sido causado por vândalos ou por pessoas em situação de rua que usam o cemitério como abrigo.
A gerente do cemitério, Francesca Silva, confirma as dificuldades no controle do local. Segundo ela, é comum encontrar pessoas dormindo dentro das capelas, com roupas estendidas de um túmulo a outro. Em alguns casos, famílias instalaram cadeados para tentar impedir invasões.
“Já encontramos roupas estendidas de uma capela para outra, restos de cigarros, plásticos e até pessoas dormindo dentro das capelas. Agora instalamos câmeras e melhoramos a iluminação, o que tem ajudado. Quando identificamos movimentação suspeita, chamamos a polícia ou acionamos o Centro Pop”, explicou Francesca.
Apesar das medidas recentes, o tamanho do cemitério e a falta de pessoal dificultam o monitoramento constante.
A situação é ainda mais grave em outro cemitério municipal. Na entrada principal, um muro alto dá a falsa impressão de segurança, mas basta caminhar alguns metros para encontrar um trecho com a estrutura completamente aberta e o muro lateral caindo aos pedaços. O acesso livre facilita ainda mais a ação de vândalos e ladrões.
Para as famílias que enfrentam o prejuízo emocional e financeiro, o sentimento é de abandono por parte do poder público. Enquanto isso, a memória dos que partiram segue ameaçada por um cenário de descaso, furtos e violação constante.
Com informações do repórter Adailson Oliveira para TV Gazeta
