No coração da Amazônia, o Acre está cada vez mais exposto aos efeitos das emergências climáticas. Eventos como chuvas intensas, secas prolongadas, queimadas e o aumento das temperaturas vêm transformando não apenas o meio ambiente, mas também a economia local, em especial, com a escassez hídrica, que afeta diretamente o bolso da população acreana.
Entre os problemas econômicos causados pelas mudanças climáticas, o encarecimento dos produtos alimentícios, da energia elétrica e dos combustíveis tem gerado grande impacto. Com os níveis dos reservatórios das hidrelétricas abaixo da média, o custo da geração de energia elétrica aumentou.
A escassez hídrica também interfere no transporte fluvial de combustíveis, forçando o uso de modais terrestres, o que eleva os preços de transporte e, consequentemente, das passagens e produtos. De acordo com o economista Orlando Sabino, que acompanha de perto os fluxos econômicos regionais,
“As emergências climáticas afetam diretamente o bolso do acreano. Essas oscilações entre seca e cheia impactam fortemente a produtividade das lavouras, seja pela falta ou pelo excesso de chuva. Novas tecnologias terão de ser adaptadas para lidar com essa nova realidade climática”, afirma.
O Acre, ainda em processo de recuperação das últimas enchentes, vê os investimentos públicos e privados sendo direcionados para mitigar os danos, em vez de promover o crescimento econômico.
O setor agropecuário, um dos pilares da economia local, é um dos mais prejudicados. O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Acre, Assuero Veronez, expõe as dificuldades dos produtores rurais.
“Eles têm sofrido prejuízos, especialmente por causa das queimadas e da seca prolongada, que prejudicam o início dos plantios de grãos. Estamos em um momento de mudanças climáticas significativas, provocadas por forças maiores do que a ação humana, o que torna a agricultura ainda mais vulnerável”, enfatiza.
Para o professor da Universidade Federal do Acre, Foster Brown, especialista em mudanças climáticas, o estado está em uma zona de alto risco. “A floresta amazônica, historicamente reguladora do clima na região, está perdendo sua capacidade de amortecer os impactos climáticos. Em 2015, estimamos que os danos causados por inundações chegaram a algo entre 200 e 600 milhões de reais. Precisamos de mais estimativas para medir o impacto dessas emergências na economia e na qualidade de vida”, afirma.
O professor reforça que, sem medidas urgentes de adaptação, a situação tende a se agravar. “Ainda podemos amenizar os impactos, mas o tempo é crucial. A redução das emissões de gases do efeito estufa e a implementação de planos de contingência para lidar com fumaça e falta de água são medidas essenciais”, conclui.
O futuro do Acre depende de ações imediatas e de uma mudança de postura em relação à sustentabilidade. Seja produtor rural, empresário ou consumidor, todos precisam adotar práticas que ajudem a equilibrar economia e meio ambiente. O que for feito hoje poderá garantir um estado mais próspero para as próximas gerações.
Matéria produzida pelo repórter Marilson Maia para a TV Gazeta.
