Entre janeiro de 2018 e junho de 2025, o Acre registrou 81 feminicídios e 158 tentativas. Só este ano, quatro mulheres perderam a vida vítimas dessa violência extrema: três casos no interior e um em Rio Branco. Por trás de cada número, há uma história interrompida e, muitas vezes, um histórico de agressões que poderiam ter sido evitadas com a intervenção certa.
O feminicídio é, quase sempre, o desfecho de um ciclo de violência que se arrasta por meses ou anos. As vítimas, em sua maioria, são mulheres com algum vínculo com o agressor — companheiros, ex-companheiros ou pessoas próximas. Muitas são donas de casa e já tinham histórico de denúncias ou agressões anteriores.
Observatório de Gênero: mapeando a violência para prevenir novos crimes
Para entender o cenário e criar estratégias de combate ao feminicídio, o Ministério Público do Acre criou o Observatório de Gênero, coordenado pela procuradora de Justiça Patrícia Rego.
“Esse é um espaço onde coletamos os dados dos sistemas de segurança pública e de justiça relativos aos feminicídios e tentativas de feminicídio. O objetivo é compreender o cenário de violência de gênero no estado, com foco nessas ocorrências mais graves”, explica a procuradora.
Além do levantamento de dados, o Ministério Público mantém a Central de Atendimento às Vítimas (CAV). O serviço oferece acolhimento psicológico, social e jurídico às mulheres vítimas de violência. O atendimento pode ser solicitado diretamente nas unidades do MP ou via WhatsApp, pelo número (68) 99993-4701.
“Ali é o espaço de escuta qualificada e empática. Temos uma equipe multiprofissional formada por psicóloga, advogada, assistente social e enfermeira para atender cada vítima de forma individualizada”, reforça Patrícia Rego.
Delegacia da Mulher: denúncias podem ser feitas de forma presencial ou anônima
A Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) é outra porta importante para as vítimas. A delegada Juliana de Angelis destaca os canais de denúncia disponíveis.
“Além do registro direto na delegacia, temos o 180, que é exclusivo para violência contra a mulher, o Disque 100, para denúncias de violações de direitos humanos, e o 181, que é o canal de denúncia local e pode ser feito de forma anônima. Todas as denúncias chegam à Polícia Civil e passam por investigação”, afirma a delegada.
Patrulha Maria da Penha: proteção nas ruas
No policiamento ostensivo, a Patrulha Maria da Penha, da Polícia Militar, atua hoje em 11 municípios do estado, com um efetivo de 30 policiais dedicados exclusivamente à proteção das mulheres em situação de risco.
“Qualquer mulher pode procurar o quartel da PM mais próximo ou a coordenação da Patrulha Maria da Penha para fazer sua denúncia. Vale lembrar que, além da patrulha especializada, as viaturas de rádio-patrulha também atendem os casos de violência doméstica, tanto na capital quanto no interior”, explica a tenente-coronel Ana Cássia, comandante da patrulha.
Prevenção e apoio: uma rede que precisa funcionar
Segundo a secretária de Estado da Mulher, Madhia Ushawa, o Acre tem buscado fortalecer políticas públicas voltadas para a prevenção e o acolhimento das vítimas, com capacitações, campanhas educativas e incentivo à denúncia.
A violência contra a mulher é um problema que não começa com o feminicídio — ele é o último ato de uma escalada que envolve medo, silêncio e, muitas vezes, a falta de apoio.
A rede de proteção está aí, mas precisa ser acionada a tempo. Para as mulheres que vivem com medo, cada canal de atendimento pode ser a diferença entre a vida e a morte.
Canais de Ajuda
A denúncia e o rompimento do ciclo de violência são passos desafiadores, mas necessários, que demandam suporte de familiares, amigos e instituições especializadas. O acolhimento da vítima é essencial para romper o ciclo de violência e desvincular-se do agressor.
As vítimas podem procurar a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) pelo telefone (68) 3221-4799 ou a delegacia mais próxima.
Também podem entrar em contato com a Central de Atendimento à Mulher, pelo Disque 180, ou com a Polícia Militar do Acre (PM-AC), pelo 190.
Outras opções incluem o Centro de Atendimento à Vítima (CAV), no telefone (68) 99993-4701, a Secretaria de Estado da Mulher (Semulher), pelo número (68) 99605-0657, e a Casa Rosa Mulher, no (68) 3221-0826.
Com informações do repórter Marilson Maia paera TV Gazeta
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