A crise climática deixou de ser uma previsão distante para se tornar uma realidade que já afeta diretamente a saúde de milhões de pessoas. Ondas de calor mais intensas, surtos de doenças infecciosas e agravamento da poluição atmosférica são alguns dos reflexos das mudanças no clima, que atingem com maior força as populações urbanas e vulneráveis.
Em 2023, um relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) mostrou que os últimos oito anos foram os mais quentes já registrados desde o início das medições, em 1850. As consequências vão além do desconforto: afetam o coração, os pulmões, o cérebro e o sistema imunológico.
De acordo com o World Resources Institute (WRI) Brasil, as alterações no clima já sobrecarregam os sistemas de saúde, aumentam a incidência de doenças infecciosas e reduzem a produtividade de trabalhadores expostos a altas temperaturas.
Um documento publicado pelo Ministério da Saúde, em abril de 2025, afirma que os impactos da crise climática na saúde da população brasileira estão se acelerando, com aumento de internações por desidratação, doenças respiratórias e agravos por vetores como o mosquito Aedes aegypti.
Poluição
A exposição a poluentes atmosféricos é um dos principais gatilhos para doenças crônicas, como asma, bronquite, hipertensão e problemas cardíacos. Segundo estudo publicado pela plataforma G7Med, em março de 2024, mais de 50 milhões de brasileiros vivem em áreas com níveis de poluição acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A pesquisa usou dados de estações de monitoramento urbano e apontou que a inalação prolongada de partículas finas (PM2.5) está ligada ao aumento de mortes prematuras.
Além dos efeitos respiratórios, há evidências de que a poluição interfere no desenvolvimento cognitivo infantil e está associada a quadros de depressão e ansiedade, conforme demonstrado por estudos da Fiocruz. Crianças e idosos são os grupos mais vulneráveis, especialmente em regiões metropolitanas como São Paulo e Belo Horizonte, nas quais a qualidade do ar frequentemente atinge níveis considerados prejudiciais.
Calor extremo
As ondas de calor estão cada vez mais frequentes e intensas. Um levantamento da Copernicus Climate Change Service, programa da União Europeia, revelou que junho de 2024 foi o mês mais quente já registrado globalmente.
No Brasil, cidades do Sudeste e Centro-Oeste vêm enfrentando sensações térmicas acima de 45°C. Estes extremos térmicos podem desencadear quadros de exaustão, insolação, desidratação e até mesmo falência múltipla de órgãos, em casos severos.
O corpo humano tem limites para suportar o calor: quando a temperatura ambiente ultrapassa os 32°C com umidade elevada, o organismo perde a capacidade de resfriamento natural por suor.
Este fenômeno pode levar ao chamado estresse térmico, condição que compromete a função cardiovascular e cerebral. Segundo estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), as internações por causas ligadas ao calor aumentaram 35% no Brasil entre 2015 e 2023, com picos durante os meses de verão.
Acre enfrenta desafios climáticos
Nos últimos meses, o Acre tem vivido uma sequência intensa de eventos climáticos extremos. Em 2024, o estado enfrentou cerca de três meses de calor acima da média. A seca histórica secou rios, matou peixes e afetou milhares de produtores rurais. Cidades como Sena Madureira figuraram entre as mais poluídas do país.
Em julho de 2025, o cenário continua crítico, com sol forte e tempo seco dominando o estado. Um bloqueio atmosférico mantém as chuvas afastadas e derruba a umidade do ar para níveis alarmantes. Com dias que lembram desertos, a população volta a enfrentar riscos à saúde. Agricultores e ribeirinhos lidam com mais um ciclo de perdas e incertezas.
Proteção ao calor extremo
Com a intensificação das ondas de calor, o ar-condicionado vem se consolidando como uma medida importante de proteção à saúde, especialmente em ambientes com grande circulação de pessoas.
Segundo nota técnica da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-Condicionado, Ventilação e Aquecimento (ABRAVA), divulgada em dezembro de 2023, manter a temperatura interna entre 22°C e 24°C reduz os riscos de desidratação, exaustão térmica e desconforto físico, além de auxiliar na concentração e no bem-estar em locais de trabalho e estudo.
Hospitais, escolas, creches e asilos climatizados têm se tornado prioridade em políticas públicas de adaptação climática. O ar-condicionado, quando usado de forma responsável e com manutenção adequada, pode ser um aliado essencial na prevenção de agravos provocados pelo calor extremo, contribuindo para o alívio térmico e a preservação da saúde de grupos mais vulneráveis, como crianças pequenas e idosos.
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