No dia 26 de julho de 2023, Rio Branco viveu uma tarde tensa. Uma rebelião no complexo penitenciário Antônio Amaro deixou mortos, feridos e servidores feitos reféns. A ação violenta envolveu policiais penais, trabalhadores do sistema prisional e agentes do Grupo Especial de Operações em Intervenções (GEPOI), além da participação da imprensa e da promotoria nas negociações para rendição dos detentos rebelados.
Dois anos depois, as marcas daquele episódio permanecem vivas na memória e no corpo de um dos homens que esteve na linha de frente. O policial penal Janilson, com 13 anos de serviços prestados ao sistema, foi atingido por um disparo de fuzil durante a contenção da rebelião. O projétil atravessou o escudo balístico e atingiu seu olho direito, deixando-o cego. Estilhaços ainda comprometem a visão do olho esquerdo, o que faz com que sua luta pela recuperação esteja longe de terminar.
“Naquele dia a gente foi acionado e se deparou com uma situação totalmente fora de controle, servidores administrativos correndo risco de vida, policiais penais em desvantagem. Enquanto o apoio não chegava, a gente segurou a situação. Foi nesse momento que os presos começaram a atirar contra a guarnição. Os disparos eram de fuzil, munição altamente letal, e um deles atravessou o escudo e atingiu meu olho. Ali eu não imaginava que começava uma grande luta que enfrento até hoje”, relembra Janilson.

Segundo o agente, o apoio esperado do Estado não veio. Ele recebeu uma indenização de R$ 20 mil, mas os custos com cirurgias, exames e tratamentos já ultrapassaram R$ 70 mil.
“Esse apoio faltou. Fiquei aqui no Estado mesmo, não viajei para outro lugar para tratamento imediato. Era para ter ido via Tratamento Fora de Domicílio (TFD) — que é um tratamento do Sistema Único de Saúde (SUS), mas isso não aconteceu. Estou aqui para informar à sociedade, porque muitos nem sabem que fiquei cego, nem sabem o que eu estou passando”, afirmou.
Apoio entre colegas
Nos momentos mais críticos, foi a solidariedade dos colegas de farda que garantiu a sobrevivência da família. Casado, pai de uma filha pequena, com casa e carro financiados, Janilson contou que chegou a passar por dificuldades financeiras extremas.
“Só tenho a agradecer de coração aos colegas, amigos e familiares. Se não fosse o apoio deles, talvez eu tivesse até caído em depressão. Minha filha me pedia coisas que eu não tinha para dar. As dores eram terríveis, eu não podia trabalhar. A ajuda que recebi foi essencial para eu continuar vivo”, desabafa.
Apelo às autoridades
Hoje, dois anos após o episódio, Janilson afirma se sentir desamparado. Ele decidiu tornar pública sua situação para cobrar providências do poder público.
“Estou praticamente à mercê, desprotegido. Não queria me expor, mas foi necessário. Estou pedindo ajuda ao governo, ao Estado, aos deputados. Eu e meus colegas estamos sempre dispostos a proteger a sociedade, mas a sociedade precisa saber o que a gente passa também. Não podemos omitir isso”, concluiu.
Com informações da repórter Rose Lima para TV Gazeta e editada pelo site Agazeta.net
