Vivemos cercados de pessoas e criar vínculos faz parte da nossa natureza. É através das relações que aprendemos a amar, confiar e construir nossa identidade. Mas nem todo vínculo é saudável. Quando a necessidade de estar com o outro se transforma em medo de perdê-lo, surge um padrão silencioso e doloroso: a dependência emocional.
O que é dependência emocional?
A dependência emocional vai além da carência. Trata-se de um padrão em que a pessoa precisa do outro para se sentir segura ou valorizada. É como se sua felicidade dependesse do parceiro: ela se anula, idealiza a relação e tolera situações que ferem sua autoestima para evitar o abandono.
Esse padrão pode afetar qualquer tipo de relação seja amorosa, familiar ou de amizade, mas é mais visível em relacionamentos afetivo-sexuais. E, embora possa atingir homens e mulheres, os estudos mostram que as mulheres são as mais impactadas, principalmente quando a dependência se mistura a situações de violência doméstica.
Como a infância influencia os relacionamentos adultos
Para entender a dependência emocional, precisamos olhar para trás. A teoria do apego, criada pelo psicólogo John Bowlby, explica que nossas primeiras experiências de vínculo, geralmente com os pais ou cuidadores, moldam como vamos nos relacionar no futuro.
- Apego seguro: quando a criança recebe cuidado e segurança, cresce mais confiante e autônoma.
- Apego inseguro: quando o cuidado é instável ou distante, a criança pode desenvolver medo de abandono, dificuldade de confiar e padrões de dependência.
- Apego desorganizado: ocorre em situações de trauma ou negligência, e tende a gerar vínculos confusos e dolorosos na vida adulta.
Mesmo depois de adultos, repetimos padrões do passado sem perceber: buscamos no parceiro o que faltou na infância, muitas vezes tentando “curar” antigas feridas através de relações que acabam sendo desequilibradas.
Características do dependente emocional
Quem vive dependência emocional apresenta sinais claros, como:
- Medo constante de perder o outro e fazer de tudo para mantê-lo por perto;
- Baixa autoestima e falta de autoconhecimento, que dificultam reconhecer necessidades próprias;
- Idealização do parceiro, colocando-o em um pedestal;
- Submissão e autoanulação, abrindo mão de sonhos e limites pessoais;
- Sintomas físicos de abstinência ao se afastar da pessoa amada, como ansiedade, insônia ou taquicardia.
Essas características, com o tempo, geram consequências emocionais graves: ansiedade, depressão, sensação de vazio e relacionamentos marcados por ciúme, posse e conflitos constantes.
Dependência emocional e violência doméstica
Um dos cenários mais preocupantes é quando a dependência emocional se une à violência doméstica. A vítima, muitas vezes, permanece no relacionamento acreditando nas promessas de mudança do agressor, minimizando as agressões e mantendo o ciclo de violência.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, 35% das mulheres no mundo já sofreram violência física ou sexual por parceiros íntimos. No Brasil, mais de 27% das mulheres relatam terem sido vítimas nos últimos 12 meses. É um problema de saúde pública e exige ação urgente.
Por que precisamos falar sobre isso
Dependência emocional e violência doméstica não são problemas individuais: refletem questões culturais e sociais profundas. Romper o silêncio sobre o tema é essencial para que mais pessoas reconheçam padrões nocivos e busquem ajuda.
Reflexão:
Você já se anulou para não perder alguém?
Quais sonhos ou partes da sua vida ficaram de lado para manter um relacionamento?
O que você faria se se sentisse seguro(a) para viver por si mesmo(a)?
Como buscar ajuda e reconstruir a si mesmo
A psicologia tem papel fundamental tanto na prevenção quanto no tratamento desses padrões.
Prevenção: levar informação psicoeducativa sobre relacionamentos saudáveis, empoderamento e direitos;
Tratamento: oferecer acolhimento e psicoterapia, ajudando a reconstruir a autoestima, estabelecer limites e criar vínculos mais equilibrados.
Exercício terapêutico para você
- Reconheça: escreva três sinais de dependência emocional que você percebe em si.
- Reflita: ao lado de cada sinal, anote o que você sente quando ele aparece.
- Aja: escolha um pequeno passo para cuidar de si (retomar um hobby, buscar terapia, conversar com alguém de confiança).
Pequenas ações podem iniciar um processo de libertação e trazer leveza para seus relacionamentos.
Francisco Souza – Psicólogo (CRP 24/02932)
Instagram: @psifranciscosouza




