Luciana Martins de Oliveira, assistente social e mãe de santo, vive um drama familiar há seis meses. Desde que decidiu viver abertamente sua orientação sexual e assumir seu papel como líder religiosa em um terreiro, teve os três filhos retirados de sua guarda por decisão da Justiça de Acrelândia, no interior do Acre. Luciana alega que foi vítima de preconceito por parte da própria família e acusa o Judiciário de ter agido sem provas.
Os filhos, dois adolescentes de 11 e 13 anos e uma criança de 4, foram entregues aos avós maternos e ao pai, ex-marido de Luciana, após denúncias que ela considera falsas e motivadas por intolerância religiosa e homofobia. Segundo os relatos apresentados à Justiça por familiares, Luciana usava os filhos em rituais religiosos, repassava álcool e drogas aos adolescentes e até entregou uma arma de fogo para o filho mais novo. Nenhuma das acusações, segundo ela, foi comprovada.
“O motivo maior deles terem pedido a guarda dos meus filhos é por conta da minha orientação sexual e da minha religião. Minha família não aceita. A minha mãe não aceita”, desabafa Luciana.
“Eu sou independente, vivo a minha vida, sou casada com uma mulher que é quem me apoia. Meus filhos gostam dela, às vezes até mais do que de mim. Eu cuido de jovens no terreiro, ajudo adolescentes, é justamente o contrário do que estão dizendo sobre mim”.
Filhos pedem ajuda em mensagens
Apesar da distância, os filhos de Luciana encontraram formas discretas de se comunicar com a mãe. Por meio de mensagens escondidas, usando perfis de redes sociais e até o subtítulo da conta da Netflix, a filha de 13 anos tem enviado prints que preocupam. Em um dos trechos, ela afirma:
“Justiça para Luciana. Minha tia e meu tio me forçavam a gravar vídeos falando de minha mãe, mesmo eu não querendo. Todos os dias eram discussões diferentes. Justiça.”
Em outro desabafo, a menina diz: “Quatro meses sem ver minha mãe, sem contato, sem nada. Ajudem quem precisa. Ameaça, tristeza é o que eu sinto dentro de mim. A justiça não faz nada.”
Luciana conta que soube, por uma colega, que a filha chegou a tentar tirar a própria vida. “Ela me contou que às vezes é proibida de comer, como castigo”, afirma.
A situação do filho mais novo, de 4 anos, também causa preocupação. Segundo Luciana, a criança, que tem Transtorno do Espectro Autista (TEA), foi entregue ao pai, que mudou de endereço e nunca mais permitiu contato.
“Ele simplesmente sumiu com meu filho. E ele ainda era amamentado no peito quando foi tirado de mim”, denuncia.
Violência institucional
Luciana afirma que está sendo vítima de violência institucional, quando o próprio sistema de Justiça atua com preconceito ou discriminação contra grupos vulneráveis.
“Pode me investigar. Isso tudo que inventaram de mim é muito cruel. Mas o que me preocupa não são só as falácias. Me preocupa que outras mães, outras mulheres, mães de santo, passem por isso. Isso é violência institucional.”
Ela segue na tentativa de reverter a decisão na Justiça, reunindo provas e depoimentos que mostrem que não cometeu nenhum dos crimes que lhe foram atribuídos. Enquanto isso, luta para restabelecer o contato com os filhos e trazê-los de volta para casa.
Com informações do repórter Adailson Oliveira para TV Gazeta
